José Cândido de Carvalho
José Cândido de Carvalho nasceu em 1914, em Campos dos Goitacases (RJ). Contista e romancista,começou a trabalhar ainda menino no pequeno comércio local. Aos 16 anos, iniciou-se como jornalista. Trabalhou em diversos jornais do Rio, foi chefe de copidesque e editor internacional da revista O Cruzeiro, a revista brasileira de maior circulação à época, e dirigiu o jornal O Estado. Em 1937 obteve o bacharelado em Direito e em 1939 estreou na literatura com o romance Olha para o céu, Frederico. Depois de 25 anos de silêncio, publicou O coronel e o lobisomem, um clássico da moderna literatura brasileira. Em 1974, entrou para a Academia Brasileira de Letras. Faleceu em 1989, em Niterói, deixando inédita a obra O rei Baltazar.
Apenas a autoria de O Coronel e o Lobisomem (1964) já seria suficiente para garantir a José Cândido de Carvalho um lugar de destaque na literatura em língua portuguesa. Quando lançado, em 1964, imediatamente seduziu leitores em todo o Brasil. Entre eles, Erico Verissimo, que o definiu como um dos melhores romances da literatura brasileira de todos os tempos. Até hoje, dezenas de edições depois, o romance continua a apaixonar leitores e é adotado em escolas e estudado em universidades, tendo sido apontado em várias pesquisas como um dos melhores livros de ficção em língua portuguesa do século XX.
Contra as expectativas mais tradicionais, José Cândido expõe intensamente a psicologia de seu protagonista e deixa vislumbrar, por trás das patentes militares, um homem frágil e contraditório, que sofre com as mudanças, com as desilusões amorosas e com o sumiço de seu galinho de briga de estimação. Ponciano de Azeredo Furtado, coronel por trabalho de valentia e senhor de pasto por direito de herança, destemido caçador de onça-pintada, lobisomem e, sobretudo, de rabo-de-saia, deu a José Cândido de Carvalho a maior glória que um romancista pode almejar: criar um ser literário dotado de vida própria e perene. Com inventividade e humor raros, o autor dotou sua personagem de uma sintaxe própria, extremamente saborosa, onde a mistura de termos de inspiração militar, jargão jurídico e expressões colhidas nos pastos e nos currais gera impagáveis neologismos. Em seus quase dois metros de inútil valentia, o coronel resume e corporifica o heróico e o patético dos últimos senhores da região canavieira do norte do Rio de Janeiro, destronados pelo processo de urbanização.
Já em Olha para o Céu, Frederico! (1939), o humor e a habilidade de José Cândido na composição de tipos faziam-se notar no protagonista de então, Eduardo de Sá Meneses. E o próprio contexto desse primeiro romance já prenuncia o que viria no coronel de anos mais tarde: neto do barão da Pedra Lisa, senhor do engenho que originara a fortuna da família, Eduardo dispõe-se a escrever a história de seu tio, Frederico Meneses. Enquanto Eduardo narra as disputas entre o tio e seu primo e o amor proibido com a tia e descreve a politicagem e o orgulho dos barões, sua própria história é narrada, revelando, por trás de sua aparente estultice, um negociador hábil, reconhecido apenas por sua bela esposa, com quem descobre o amor e o sexo.
Também em suas histórias curtas, José Cândido esbanja agilidade e humor. Unidas pelo subtítulo “contados, astuciados, sucedidos e acontecidos do povinho do Brasil”, as histórias insólitas e as personagens bizarras de Um Ninho de Mafagafes Cheio de Mafagafinhos (1974) e Porque Lulu Bergantim Não Atravessou o Rubicon (1974) traçam uma imagem surpreendente do interior do Brasil. Em Ninguém Mata o Arco-íris (1972), o cenário urbano e o jornalismo transformado em literatura são a novidade. Aqui, o criador de tipos inesquecíveis retrata, em flashes do cotidiano, personalidades nacionais tão diferentes como o da cantora Elza Soares, o do cineasta Glauber Rocha e o da pintora Djanira.
“Quem me faz rir todas as manhãs, com riso grosso que deve fazer bem à saúde, é José Cândido de Carvalho com sua verbalização abstrusa na apresentação de figuras do sertão num tom de extrema comicidade, um mundo estrambótico, brigas, festanças, pequenas farsas, tudo isso não-raro obras primas no gênero.”
Gilberto Amado, o jornal Última Hora, 8/7/1969
Sobre o Coronel e o Lobisomem
“É da mais alta qualidade literária, combinando o realismo dos costumes rústicos, muito bem observados, com uma penetração psicológica que o coloca entre os dois tipos de romance – o objetivo e o subjetivo. Estamos em face de uma espécie de realismo mágico.”
Alceu Amoroso Lima,crítico literário
“José Cândido de Carvalho amadureceu no recolhimento um extraordinário romance brasileiro e uma obra de arte sem falhas; aqui, sim, o estilo é uma criação, e tanto mais notável quanto parece introduzir alguma coisa de novo na linha de Guimarães Rosa; aqui, sim, o romancista criou um tipo, o melhor tipo de coronel decadente e, ao mesmo tempo, um tipo humano de grande riqueza e complexidade, um verdadeiro ‘temperamento’, uma personalidade inconfundível.”
Wilson Martins, crítico literário
OBRAS
Romances
Olha para o Céu, Frederico! – 1939, 2009, (nova edição no prelo), Companhia das Letras
O Rei Baltazar – (nova edição no prelo), Companhia das Letras
O Coronel e o Lobisomem (408 págs.) – 1964, 2007, 2014, Companhia das Letras
Contos & Crônicas
Porque Lulu Bergatntim Não Atravessou o Rubicon – 1974, 2008, (nova edição no prelo), Companhia das Letras
Se Eu Morrer Telefone para o Céu – 2010, (nova edição no prelo), Companhia das Letras
Um Ninho de Mafagafes Cheio de Mafagafinhos – 1984, 2011, (nova edição no prelo), Companhia das Letras
Ninguém Mata o Arco-íris (302 págs.) – 1972, 2012, (nova edição no prelo), Companhia das Letras
Edições Estrangeiras
França: Le Colonel et le Loup- Garou / O Coronel e o Lobisomen / trad. José Carlos Gonzales - 1978, Editora Gallimard
Espanha: El Colonel y el Lobisón / O Coronel e o Lobisomen / trad. Haydée M.Jofre Barroso - 1976, Editorial Sudamericana
Alemanha: Der Obster und der Werevolf / O Coronel e o Lobisomen / trad. por Roman Suhrkamp, 1979, Editora Suhrkamp