Adélia Prado nasceu em Divinópolis, Minas Gerais, em 1935. Poetisa, romancista, cronista e contista, cumpriu os estágios típicos da vida de moça do interior: estudou no Grupo Escolar local e numa escola de freiras do Sagrado Coração, cursou a Escola Normal, começou a lecionar aos 18 anos, casou-se aos 23 e, entre 1959 e 1966, teve cinco filhos. Aos 15 anos, começou a escrever poesias, após a perda de sua mãe. Em 1966, ingressou no curso de Filosofia na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Divinópolis, ao lado do marido. Finalmente, aos 38 anos, a vida de Adélia mudaria para sempre, após enviar seus poemas ao poeta e crítico literário Affonso Romano de Sant'Anna, que os submete a Carlos Drummond de Andrade. Apadrinhada por Drummond, que em crônica no Jornal do Brasil qualifica seus poemas como “fenomenais”, publica o primeiro livro, Bagagem, em 1976. Hoje, Adélia é uma das mais importantes autoras brasileiras, representando a literatura nacional em eventos internacionais.
Adélia Prado entende sua literatura como um dom divino. Quem será tão ateu que discorde? Ainda menina, descobriu o poder e o prazer da palavra, esmerou-se em composições escolares, foi aplaudida em casa e louvada em classe, mas foi após a morte de seu pai, que, entregue a um processo de escrita torrencial, descobriu sua própria voz. – “Bagagem, meu primeiro livro, foi feito num entusiasmo de fundação e descoberta nesta felicidade. Emoções para mim inseparáveis da criação, ainda que nascidas, muitas vezes, do sofrimento.”
Quando, pelas mãos de Affonso Romano de Sant’Anna e Carlos Drummond de Andrade, o público nacional descobriu a poesia de Adélia, o sentimento predominante foi de reconciliação. Adélia não precisava abdicar do que era, professora, esposa, mãe e dona de casa, para ser uma grande poetisa, nem pedia ao leitor que abdicasse da materialidade da vida para encher-se de beleza. Ao contrário, é das coisas simples, da vida rotineira, que nasce a literatura de Adélia, que enriquece e desbanaliza o dia-a-dia de quem a lê.
Em 1979, o leitor ficou sabendo que Adélia também não precisava desligar-se do cotidiano para descobrir histórias e personagens fascinantes. Adélia estréia em prosa com Solte os Cachorros (1979), um texto de difícil classificação em termos de gênero. O certo é que no tom confessional dos diários intimo, a autora atrai o leitor para narrativas onde a sintaxe popular é plataforma para novas formas de expressão. É sempre assim a sua prosa, onde vozes femininas livres de estereótipos buscam compreender o sentido da vida entre temores, lembranças, sonhos, dores, casos cotidianos e clamores a Deus.
A literatura de Adélia conquistou também espectadores: com o monólogo Dona Doida, a grande dama do teatro brasileiro Fernanda Montenegro levou sua poesia ao palco num espetáculo que permaneceu 13 anos em cartaz e foi encenado em Portugal, no Uruguai, nos EUA e na Itália, além de em vários estados brasileiros. Em 2000, o romance Manuscritos de Felipa (1999) também é adaptado com sucesso e encenado com o título, Dona da casa.
Dentro do projeto de reedição de toda a obra da autora, foi lançado em Março de 2006 seu primeiro livro para o público infantil, Quando eu era pequena (2006). Inspirado na infância da própria Adélia, o livro traz as lembranças de uma menina do interior durante a Segunda Guerra Mundial. Na vida simples com os irmãos, vendo o avô cuidar da horta e a mãe cozinhar o almoço, quando ter um sofá era um luxo e retratos não se tirava pois eram caros demais, a menina descobre a poesia. E a escritora mostra mais uma vez como as palavras simples podem emocionar e criar novamente aquilo que o tempo já levou.
Em prosa ou verso, Adélia abre os olhos do leitor para o que há de sagrado nas coisas mais triviais. Sem prescindir delas, Adélia tornou-se uma das autoras nacionais mais requisitadas em eventos sobre literatura, no Brasil ou em países como Cuba, na Alemanha ou nos EUA, e sua obra tornou-se objeto de estudos em universidades como Princeton. Atualmente, sua obra está sendo reeditada pela Editora Record.
''Adélia é lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo: esta é a lei, não dos homens, mas de Deus. Adélia é fogo, fogo de Deus em Divinópolis.''
Carlos Drummond de Andrade
''O transe poético é o experimento de uma realidade anterior a você. Ela te observa e te ama. Isto é sagrado. É de Deus. É seu próprio olhar pondo nas coisas uma claridade inefável. Tentar dizê-la é o labor do poeta.''
Adélia Prado
“(...) Além de ter instalado uma linguagem sua e além de ter se enraizado em sua paisagem natural, Adélia descobre a mulher concreta dentro de si mesma, além das ideologias, além dos preconceitos, e assume uma eroticidade que, de repente, faz ressaltar a eroticidade ausente de nossa ´poesia feminina´ convencional.”
Affonso Romano de Sant’Anna, In: Coração Disparado
Portugal: Com Licença Poética - 2003, Cotovia (direitos revertidos)
Portugal: Solte os Cachorros - 2003, Cotovia (direitos revertidos)
Portugal: Tudo que Existe Louvará - Antologia / organizada por José Tolentino de Mendonça – 2016, Porto Editora
US: The Alphabet in the Park (Selected Poems of Adélia Prado) / Tradução: Ellen Watson – 1999, Wesleyan
US: Ex-Voto: Poems of Adélia Prado / Tradução: Ellen Watson – 2013, Tupelo Press
US: The Mystical Rose: Selected Poems / Tradução: Ellen Watson – 2015, Bloodaxe Books
Prêmios
A Duração do Dia – Prêmio Alphonsus de Guimaraens, da Fundação Biblioteca Nacional, 2010
Griffin Poetry Prize 2014
Poesia Reunida – Categoria Poesia: Prêmio Alphonsus de Guimaraens, da Fundação Biblioteca Nacional, 2016
Em Quando eu era pequena Adélia Prado leva o leitor numa viagem pelas recordações de infância da personagem Carmela. A beleza das ilustrações, em harmonia com um texto poético, despertam sensações e sentimentos, que remetem os adultos às memórias do passado e as crianças a um maravilhoso mundo de descobertas. Adélia trata, com beleza e delicadeza, inclusive de temas difíceis, porém naturais, com a morte e outras perdas.
Cacos para um vitral, de 1980, conta o cotidiano aparentemente monótono de Maria da Glória, professora de música e de religião, em busca da perfeição divina. Nele, Adélia Prado usa a metáfora do vitral para explicar a relação entre a vida e Deus. Narrado em terceira pessoa, acompanhamos os pequenos fragmentos da vida dessa mulher, ao lado do marido Gabriel e a discussão de ambos sobre a criação poética.
Quando recuperava a alegria, Glória ficava íntima. E descobria que o medo e o sentimento de culpa não a preservavam, mas a endureciam. Estar alegre, para Glória, era possuir intimidade. Seu corpo não era mais feito de partes, mas algo inteiro e harmonioso, ajustado, digna de amor e de amar, fazer os outros felizes.
Bagagem
Record
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1976
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144 págs.
Bagagem, primeiro livro de Adélia Prado, traz textos repletos de emoções que, para a autora, são inseparáveis da criação, ainda que nascidas, muitas vezes, do sofrimento. O sentido de religiosidade também está presente em grande parte dos poemas, retratando parte da realidade da vida no interior do Brasil. Muitas vezes, Adélia opta por expor conflitos entre o sagrado e o profano, observados a partir de coisas simples da natureza ou até mesmo da leitura de um texto religioso.
Os poemas de Bagagem nasceram de um período em que Adélia escrevia incessantemente. Apesar de muitos e variados, abordando temas tão diversos quanto o amor carnal, o amor divino, a vocação do poeta, as cores e o sofrimento, os poemas possuem uma unidade, uma fala peculiar. O título, para a autora, resume aquilo que ela não pode esquecer ou deixar: a própria poesia.
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