Um dos grandes pensadores sobre a questão de gênero no país, João Silvério Trevisan reflete em nova edição de “Seis balas num buraco só” sobre a crise do modelo masculino em nossa sociedade.
Por Felipe Maciel
João Silvério Trevisan reabre as entranhas da crise masculina nesta nova edição revista, atualizada e ampliada de Seis balas num buraco só (Objetiva). Publicado em 1998, o livro é de uma atualidade desconcertante.
Quem diria que a segunda década do século 21 deixaria como rastro tantos homens estúpidos e violentos. Seria uma contrarreação? Estariam eles, na verdade, acuados? Somos observadores e agentes de um mundo em transformação. A crise do poder do macho é uma crise do nosso tempo.
“A ‘desintegração’ do masculino tem a ver com transformações históricas que começaram a inviabilizar a manutenção do mito. Para tanto, não se podem esquecer as conquistas das mulheres nos últimos séculos, que vieram redefinindo seu papel social por meio de duras lutas e resistência cotidiana.”, analisa o autor.
Trevisan argumenta que as mudanças de paradigmas sociais no Ocidente relacionados à gênero e sexualidade criaram entre os homens um pavor inédito, que coloca em xeque a cultura patriarcal hegemônica. A reação à crescente perda de comando está diretamente proporcional ao crescimento da brutalidade masculina.
Os números de violência doméstica e feminicídio alarmantes corroboram a tese. Termos recentes como “boy lixo” e “masculinidade tóxica” atestam a percepção do fenômeno social pelas novas gerações.
“‘Quem sou eu?’. Tal como Édipo diante da Esfinge, ele [o homem] vive um desafio identitário, confrontado com seu próprio enigma, que o ameaça implacavelmente, numa versão moderna do ‘Decifra-me ou te devoro’.” A história segue sendo escrita.