Sobre o autor
O poeta do “sentimento do mundo”, Carlos Drummond de Andrade nunca foi de holofotes. Nasceu em 1902, em Itabira, a pequena cidade mineira que viria a permear parte de sua obra e imaginário poético. Ainda jovem, ligou-se à proposta estética do Modernismo e fundou ao lado de três amigos A Revista para divulgar o então efervescente movimento artístico no Brasil. Formou-se em Farmácia e se casou, em 1925, com Dolores Dutra de Morais, com quem teve dois filhos; Carlos Flávio, que viveu apenas meia hora, e Maria Julieta Drummond de Andrade, com quem manteve uma relação estreita durante toda a sua vida. Em 1930, publicou Alguma poesia, sua primeira obra poética, que ganhou nova edição em 2013 pela Companhia das Letras.
Foi cronista dos mais importantes jornais brasileiros e trabalhou a maior parte da vida como funcionário público. Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1934, onde permaneceria até a morte. Na capital federal, assumiu a chefia do gabinete do ministro da Educação e Saúde Pública, seu amigo Gustavo Capanema. Em 1940, publicou Sentimento do mundo, de apenas 150 exemplares. A obra se tornaria um clássico, deslumbrando leitores a cada geração com todo o seu lirismo itabirano. Tamanho encantamento que voltaria a se repetir outras tantas vezes, como em 1945, com a publicação de A rosa do povo.
Sofisticado e popular, Drummond foi homenageado em 1987 com o samba-enredo O reino das palavras, pela Mangueira, que se sagrou campeã naquele ano. Em cinco de agosto desse mesmo ano, perdeu sua única filha, vítima de câncer. Doze dias depois, com problemas de saúde agravados, o poeta faleceu aos 84 anos, deixando cinco obras póstumas: O avesso das coisas, Moça deitada na grama, Poesia errante, O amor natural e Farewell.
Publicado no Brasil pela editora Companhia das Letras, Drummond foi adaptado, traduzido para mais de uma dezena de idiomas, declamado, citado, analisado, debatido, lido, relido e amado de todas as formas, e é ainda hoje apontado por intelectuais, artistas, escritores, acadêmicos, críticos e leitores em geral como o maior poeta do Brasil. Na realidade, ser maior nunca foi um sonho de Drummond. O próprio poeta admitia: “Sou incapaz de atravessar uma sala cheia de gente”. E os verdadeiros poetas são assim mesmo, meio invisíveis, pelo menos quando andam nas ruas ou circulam em festas e reuniões repletas de gente.
Citações
“ninguém faz ideia do que significava possuir um exemplar dessas bíblias do lirismo itabirano. […] Ver, assim que ela apareceu, era um privilégio. Um deslumbramento”
Otto Lara Resende, sobre Carlos Drummond de Andrade
“A escrita de Drummond se embate com a dureza do limite, do obstáculo e do relevo ferrífero. Um é a “pedra no meio do caminho”, o outro, “a terceira margem do rio”. Drummond via nos profetas do Aleijadinho essa dimensão de confabulação silenciosa com as montanhas, com a qual se identificava.”
José Miguel Wisnik, sobre Carlos Drummond de Andrade
“Você é uma sólida inteligência e já muito bem mobiliada… à francesa.”
Mário de Andrade, escritor, poeta e crítico literário, em correspondência destinada a Carlos Drummond de Andrade
“Só há uma pessoa que se ombreia a ele nessas amizades que a literatura me trouxe: Antonio Candido. Os dois são minhas paixões maiores e por quem tenho uma admiração irrestrita. Foi um privilégio ter começado tão cedo com eles.”
Armando Freitas Filho, poeta, sobre Carlos Drummond de Andrade
“O Brasil realmente tem um pé em cada canoa, numa contemporaneidade muito forte e numa coisa arcaizante que não sai. O Drummond acessou esses fios desencapados e fez uma faísca.”
Nuno Ramos, artista plástico, pintor, videomaker e ensaísta, sobre Carlos Drummond de Andrade
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Matéria de O Globo sobre a publicação das primeiras crônicas de Carlos Drummond de Andrade