Guardadas as diferenças de geração, e talvez justamente por causa dessas diferenças, Calcinha no varal poderia ser comparado ao livro Feliz ano velho, de Marcelo Rubens Paiva. Mas a proximidade de estilo – narração em primeira pessoa num tom coloquial e ao mesmo tempo ácido e sincero – ressalta principalmente o quanto mudaram o país e a juventude nos vinte anos que separam os dois livros. A trajetória de Juliana é construída por sua visão pessoal ao mesmo tempo delicada e crua, mas sintetiza também a experiência coletiva de uma geração que cresceu com a sexualidade liberada pelas mudanças culturais, e restrita pela Aids.
Em Calcinha no varal, a jovem narradora resiste a suas perdas com criatividade e bom humor e compõe os fragmentos poéticos de sua história. A tristeza surge e vai embora, os momentos bons são às vezes vibrantes, outras vezes calmos e doces. A história vai se construindo como a vida ela mesma – na experiência e na busca da identidade, que às vezes é dolorosa, mas sempre é doce.
Calcinha no Varal
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