Por Felipe Maciel
Primeiro escritor brasileiro a receber o Prêmio Camões de Literatura, o mais importante em língua portuguesa, João Cabral de Melo Neto completaria cem anos no último dia 9 de janeiro. Ao longo daquele mês, foram organizados uma série de eventos literários e rodas de discussão para homenagear o poeta pernambucano que, em sua obra, revelou “a beleza da pedra, do chão seco do sertão, do amor dos mal-amados e da aspereza de uma vida Severina”.
A imprensa brasileira publicou dezenas de reportagens e artigos sobre a sua trajetória, destacando o estilo único, o notório rigor formal de sua poesia e a constante preocupação com a temática social. Abrindo as homenagens, o Suplemento Pernambuco dedicou sua matéria de capa ao poeta, em edição que contou com textos da historiadora, escritora e professora da UFMG Heloísa Starling e do crítico literário José Castello. Os principais jornais do país também repercutiram o centenário em sucessivas matérias exaltando a poesia de João Cabral e revisitando aspectos de sua obra e personalidade.
Caetano Veloso teve um poema inédito de sua autoria dedicado a João Cabral publicado no suplemento Ilustríssima, da Folha de S. Paulo. No texto de introdução, declarou: “As rimas toantes, a secura, aquele avesso do surrealismo que era o cerne de seu impulso experimental me arrebataram.” Elba Ramalho, que participou em 1981 da adaptação de Morte e vida Severina para a TV Globo, assinou um artigo para o Estadão em que ressaltou sua profunda identificação com a poesia cabralina “pela sua profundidade e suavidade, a forma lúdica como ele olha o Nordeste e a história da nossa gente.”
O jornalista Gerson Camarotti também homenageou seu conterrâneo apresentando na GloboNews um especial sobre o autor e resgatando uma entrevista de 1988 com João Cabral de quando era um jovem repórter do Correio Braziliense. Camarotti recorda que aquele foi se último encontro com o poeta que viria a falecer no ano seguinte. Na ocasião, João Cabral lhe confessara: “Escrever para mim sempre foi um ofício pesado.”
“Minha poesia procura ser não lírica e não subjetiva. É feita para despertar e não para embalar”
João Cabral de Melo Neto
O engenheiro, como João Cabral tornou-se conhecido por seu processo racional e preciso de construção poética, propunha que a poesia fosse resultado de uma atitude objetiva, diante da realidade concreta, uma postura de quem controla racionalmente as emoções, o que em sua obra se expressa por um rigoroso cuidado formal.
Na epígrafe de “O engenheiro”, de 1945, cujo tema principal é o próprio fazer poético, o autor, citando Le Corbusier, deixou clara a intenção de sua poesia em ser uma machine à émouvoir. Frequentemente, essa arquitetura prestou-se a erguer uma crítica social contundente. É o caso dos livros O cão sem plumas, de 1950, O Rio, de 1954, e o poema longo Morte e vida severina, de 1965, o mais popular de sua obra, que ganhou uma célebre adaptação teatral no TUCA, dirigida por Roberto Freire e musicada por Chico Buarque. Em todos eles, Cabral recriou a dura vida sertaneja, tendo sempre presente o rio Capibaribe como paisagem, testemunha e, até mesmo, narrador.
Foi também anunciada na ocasião uma série de lançamentos ao longo de 2020 no mercado editorial. Confira aqui:
- Obra completa
Será reunida pela Alfaguara, que também planeja publicar discursos e ensaios
- Vivir en los Andes
Antologia reúne textos do período como embaixador em Quito
- Recife/Sevilha
Apresenta trechos inéditos de entrevista ao cineasta Bebeto Abrantes
- Fotobiografia de João
Cabral de Melo Neto
Edição da Verso Brasil
Centenário João Cabral de Melo Neto na mídia:
G1 – Matéria de Gerson Camarotti – 09/01
Especial de Folha de S. Paulo – 09/01
Blogfolha Sylvia Colombo/Folha de S. Paulo – 09/01
Folha de S. Paulo (poema de Caetano Veloso) – 03/01
Estadão – 09/01 (texto de Elba Ramalho)
Blog do Acervo/O Globo – 09/01
Blog de Bernardo Mello Franco/O Globo – 09/01
Folha de Pernambuco (vídeo Youtube) – 09/01
Estado de Minas – 03/01 (entrevista histórica de Gerson Camarotti)