7 de outubro de 2021

Pesadelo corporativo

Em seu novo livro, Marcelo Ferroni coloca em xeque o método de tomada de decisões empresariais quando a realidade em que vivem é radicalmente alterada.

Por Felipe Maciel

Há algo estranho no ar. De cara, Marcelo Ferroni insere os leitores em um grande fuzuê em As maiores novidades: uma viagem no tempo (mapa lab), seu novo romance, que já está em pré-venda. O ritmo é ágil, não há tempo a perder neste sci-fi que mergulha no caos das grandes corporações de tecnologia.

Se o tempo é pouco preciso, as decisões humanas também carecem de racionalidade e de empatia. A inverossimilhança se torna verossímil. Um celular que promete revolucionar o mercado da tecnologia se prova um erro de projeto, erro que permite viajar no tempo. E modificá-lo. Erro ou oportunidade? Ou ainda um erro oportuno? A ganância que move o mundo também pode levá-lo ao buraco.

As maiores novidades é veloz e envolto por um ar de imprecisão, temor e voracidade, e retrata, com acidez e muita imaginação, a civilidade bárbara do mundo de hoje, uma realidade tão impessoal e violenta quanto imprevisível. Desta vez, Ferroni acentua as cores do universo pop já presente em sua obra anterior, a começar pela escolha do projeto gráfico que remete aos jogos de videogame.

A história gira em torno de um objeto que promete revolucionar o mundo tecnológico – o celular Challenger Ten –, mas uma falha no chip quântico do produto coloca tudo a perder, trazendo graves repercussões globais. Da noite para o dia, os executivos da multinacional Challenger descobrem que o aparelho disfuncional é capaz de se conectar com o passado.

Reuniões exaustivas são imediatamente convocadas para compreender o erro de projeto de proporções inimagináveis. É preciso achar um culpado e corrigir a rota para salvar a multinacional do megaescândalo. O clima que se instaura é frenético e tenso – a animosidade transparece nos diálogos ágeis e ferinos que, aos poucos, revelam as tensões subjetivas que o mundo corporativo prefere calar.

Por trás das decisões calcadas em números, relatórios, incompetência humana e muito jogo de empurra, há dramas e motivações individuais. A impessoalidade extrema dá espaço para vidas ordinárias. E, assim, se descortinam as personalidades de Patricia, Eduard, Kristen, Aditi, Hallbacher, entre outros personagens, cujas trajetórias particulares estão intimamente enredadas com o futuro da corporação.

Tudo isso sem falar nas referências do autor, que reúne no mesmo balaio clássicos, como “De volta para o futuro”, Philip K. Dick e William Golding. Pop e clássico.


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