Em seu novo livro, João Anzanello Carrascoza tece breves histórias sobre as relações entre pai e filho, marido e mulher, irmãos, casais apaixonados ou em crise.

Por João Schlaepfer

Agora é oficial. Podemos celebrar o lançamento de Tramas de meninos (Alfaguara), o mais novo livro de contos de João Anzanello Carrascoza.

Mestre da concisão com profundidade e das poucas palavras com sensibilidade, cada conto é uma família em particular e é todas, ao mesmo tempo. As relações humanas, mais especificamente as familiares, são trabalhadas em catorze contos que se dividem em dois grupos: “Primeiros fios” e “Segundos fios”.

Boa escolha a de Carrascoza, pois as famílias têm disso… enrolam-se como fios em pontas inusitadas e se desamarram com o tempo e o afastamento. Também por isso, por essa fidedigna leitura do que há de vivo em cada relação, nada de positivismo, nada de bom ou mau. A proibição que protege. A saudade que rasga. O silêncio que treme.

Carrascoza coloca em cada personagem a ambiguidade dos desejos e a fraqueza de seus temores. Fiquemos com um trecho:

“Mas, talvez, você tivesse outro motivo para dizer o que disse, e o que a gente diz não pode mais ser apagado nem pelo tempo; nem o perdão, André, tem o poder de silenciar as palavras ditas, só a memória, mas a memória se dilui, por mais invulnerável que seja, ela também descolore, e quem sabe esteja aí a nossa redenção — esquecer pode ser a cura para as nossas perdas, lembrar dói quase como a própria dor.”