11 de maio de 2025

Rubem Fonseca: 100 anos

Por Felipe Maciel

Hoje, 11 de maio de 2025, celebramos o centenário de Rubem Fonseca — um dos maiores escritores do país, reconhecido por sua prosa seca, direta e impactante, que transformou a literatura brasileira do século XX e segue influente até hoje.

A trajetória literária de Rubem Fonseca

Nascido em Juiz de Fora em 1925, Rubem Fonseca se destacou como escritor, roteirista e, ainda, como uma figura cultuada dentro do cenário literário brasileiro. Sua formação acadêmica na área de Direito e sua passagem pelo serviço público (como delegado de polícia) ajudaram a moldar sua visão do mundo, profundamente marcada pela violência, pela corrupção e pelas contradições sociais, elementos que ele exploraria em suas obras com maestria.

Fonseca revolucionou o conto e o romance policial no Brasil com obras como Feliz Ano Novo (1965), Lúcia McCartney (1968), O Caso Morel (1965), Agosto (1990) e Vastas Emoções e Pensamentos Imperfeitos (2001). Sua escrita seca e direta, aliada a um estilo que fundia a violência urbana com uma reflexão existencial aguda, fez dele uma referência no Brasil e no exterior.

Ao longo de sua carreira, o autor desafiou convenções literárias, não apenas pela temática que abordava — sempre imersa em aspectos sombrios da sociedade — mas também pela estrutura inovadora de seus textos, que muitas vezes mesclavam o suspense com a introspecção filosófica. A sua narrativa introduziu uma forma de ver o Brasil que não estava no cânone da literatura oficial até então.

Reconhecimento internacional

Rubem Fonseca é um nome reverenciado não apenas no Brasil, mas também internacionalmente. Suas obras foram traduzidas para vários idiomas, e sua narrativa foi reconhecida como uma das mais relevantes da literatura latino-americana contemporânea. O escritor foi premiado diversas vezes, incluindo distinções como o Prêmio Camões, o mais prestigioso da literatura em língua portuguesa, e o Prêmio Jabuti, em várias edições. Sua importância foi consolidada ao longo dos anos, com sua escrita imortalizada em uma série de reedições de seus livros.

Sua influência na literatura brasileira e no campo da adaptação cinematográfica

A escrita de Rubem Fonseca influenciou uma geração inteira de escritores brasileiros, como Tony Bellotto, Raphael Montes, José J. Veiga entre muitos outros. Seu impacto foi descrito por Tony Bellotto, em um artigo para O Globo, quando afirmou que “todos os escritores da minha época foram muito influenciados por essa voz literária e direta dele, que é como um soco no estômago”. Não é à toa que seus livros também tiveram uma adaptação significativa para o cinema, sendo “Feliz Ano Novo” um dos principais filmes baseados em suas obras, dirigido por Paulo José e estrelado por Cássia Kis e Fernando Alves Pinto.

A relação com a política e a sociedade brasileira

Fonseca também teve uma relação estreita com a política, sempre se posicionando contra os governos militares e denunciando a violência e a corrupção na sociedade brasileira. Sua obra estava sempre em sintonia com os rumos políticos do Brasil, e ele não hesitava em expor as contradições do país, refletindo uma visão crítica sobre a classe dominante, a desigualdade social e o sofrimento das classes mais baixas.

Em uma época de repressão e censura, sua escrita se tornou um símbolo de resistência, abrindo um espaço para a literatura brasileira de denúncia, crítica e reflexão sobre os rumos do país.

O legado de Rubem Fonseca

Hoje, a obra de Rubem Fonseca se mantém viva e relevante. Ele não apenas definiu uma nova forma de escrever a realidade, mas também moldou uma nova visão sobre a literatura policial e a ficção brasileira. Sua capacidade de olhar o Brasil com um olhar desafiador e cruel, mas ao mesmo tempo humanista e profundo, é o que torna sua obra essencial para compreender nossa história recente.

No centenário de seu nascimento, celebramos não só sua obra, mas também sua contribuição para a cultura brasileira. E a boa notícia é que ainda há mais por vir: segundo Bia Corrêa do Lago, sua filha, Fonseca deixou um rico acervo — manuscritos, anotações, fotos e até poemas brutais — tudo guardado, ao contrário do que ele costumava dizer. Esses materiais inéditos podem abrir novas dimensões na compreensão da obra e da pessoa de Rubem Fonseca, mantendo sua presença firme na literatura contemporânea.

O centenário de Rubem Fonseca é apenas o começo de uma nova leitura de seu legado, um convite para revisitar e aprofundar sua obra, que continua sendo uma das mais radicais, impactantes e brilhantes da literatura brasileira.


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