O professor Heliseu acorda de um sono agitado. Aquele é o dia em que será homenageado por uma carreira exemplar na universidade. Precisa apenas preparar um discurso para a cerimônia — uma tarefa fácil para quem tantas vezes falou a auditórios lotados, capaz como poucos de transformar assuntos espinhosos em aulas brilhantes.
Sozinho em seu apartamento — em poucos minutos Dona Diva deve chegar para preparar o café da manhã —, Heliseu é tomado por uma sucessão incontrolável de memórias e revisita momentos nem sempre felizes: a convivência com o pai rígido; a morte da mãe, em circunstâncias pouco claras; o tempo no seminário; o casamento com Mônica; o relacionamento conturbado com o filho; a paixão pela misteriosa Therèze. As lembranças se cruzam com a história do Brasil, do regime militar aos governos mais recentes e o acerto de contas de Heliseu com seu passado transforma-se no acerto de contas de uma país com sua história.
Neste que é o mais proustiano de seus livros, Cristovão Tezza constrói um intrincado embate de um homem com as culpas e os arrependimentos de uma vida inteira, concentrado em poucas horas de um dia comum.