Por Felipe Maciel
No dia 18 de outubro de 2018, a Folha de S. Paulo publicou uma matéria de grande repercussão revelando o disparo em massa de mensagens por WhatsApp contra Fernando Haddad, candidato à Presidência, e, dessa forma, ferindo a legislação eleitoral brasileira. A notícia revelada pela repórter especial Patrícia Campos Mello caiu como uma bomba há poucos dias das eleições presidenciais mais polarizadas do país. A reação à denúncia da jornalista foi imediata.
Logo depois, a jornalista passou a sofrer um processo de desconstrução nas redes sociais. “Vagabunda comunista” e “jornalistinha comunista” foram algumas das ofensas, as mais leves, no caso. Houve uma enxurrada de memes com o rosto da repórter, acompanhados pelas legendas mais ofensivas. Patrícia já havia coberto o conflito na Líbia, esteve também no front contra o Estado Islâmico, no Iraque e no Afeganistão. Nunca precisou de guarda-costas pelas informações que, por ofício, trouxe à tona. Desta vez, a proteção à sua integridade física se fez necessária.
A máquina do ódio (Companhia das Letras), que acaba de chegar às livrarias, não retrata somente os bastidores da máquina de fake news e desinformação que contamina todo o ambiente político nacional, tampouco é apenas um livro sobre o nível de agressividade e de calúnias a que esteve exposta. Na obra, a autora retrata, partindo do caso brasileiro, a grande encruzilhada que a imprensa livre hoje enfrenta para estabelecer os fatos e como a internet, que acreditávamos ser uma ferramenta fundamental para as democracias, pode, paradoxalmente, favorecer regimes políticos bem pouco afeitos às regras democráticas.
Não é uma particularidade brasileira. “Nas Filipinas, na Índia ou nos Estados Unidos, políticos recorrem a exércitos de trolls e bots para construir narrativas que os favoreçam. É esse o novo mundo em que vivemos: fatos são moldáveis.”, escreve a autora para nos apresentar a uma nova categoria de tiranos: os tecnopopulistas.