Em novo romance, Marcela Dantés narra a trajetória de uma mulher que, perto dos 40 anos, desembarca em Portugal para encarar os próprios demônios.
Por Felipe Maciel e João Schlaepfer
“Contaram-me que o tal João Maria tinha morrido havia pouco, de um jeito que só pessoas muito estúpidas conseguem morrer.”
Acontece que João Maria é o pai que Matilde só descobriu existir já perto dos quarenta anos. É com essa potência do caos, de arrancar o chão logo nos primeiros parágrafos, que Marcela Dantés nos oferece seu mais novo romance, João Maria Matilde.
Finalista dos prêmios São Paulo e Jabuti 2021, Dantés publica pela Autêntica Contemporânea sua mais recente obra de ficção que aborda a história de uma “mulher forte e independente que pensava ser filha de pai desconhecido”. No entanto, o tal pai a inclui no testamento, que já tem em dia e hora marcada em uma pequena vila de Portugal.
Matilde é uma tradutora e de seu pai sabia apenas o primeiro nome. Diante do Alzheimer da mãe, ela não esperava encontrar respostas sobre parte de sua origem, até receber a ligação de um advogado português. Ele informa que o pai dela, João Maria, morreu atropelado e havia um testamento que precisava ser lido.
Assim, Matilde embarca para uma viagem a um passado absolutamente novo. No Brasil, ficam o namorado e a mãe com Alzheimer.
Sozinha, ela se convoca a enfrentar seus medos e os próprios escapismos da realidade. Um caminho em construção para se reconhecer. Recém-publicado, o novo romance de Marcela Dantés vem alcançando uma excelente recepção na imprensa.
Segundo o suplemento Pensar, do jornal O Estado de Minas, “Marcela Dantés consegue um feito notável no texto: ela adapta com maestria a oralidade típica de Portugal, usando a seu favor o ritmo rápido, mas sem variações, quase monocórdio, da língua falada por lá. O uso desta oralidade como ferramenta narrativa deixa o livro em uma tensão controlada, mas constante, o que provoca um certo desconforto – proposital.”
Escritora e colunista do Valor Econômico, Tatiana Salem Levy acrescenta: “o romance de Marcela Dantés traz uma narradora cuja linguagem desliza em várias direções, como se ela própria fosse esse cérebro que só se encontra de verdade quanto mais se perde.”