Uma conversa entre amigos, pautada pelo humor e pela cumplicidade.
Por João Schlaepfer
No final do ano passado, quando já estávamos prestes a desligar os computadores para reabri-los só neste ano, a Companhia das Letras lançou a belíssima obra Tempo vida poesia: Confissões no rádio, de Carlos Drummond de Andrade.
O livro, com posfácio de Elvia Bezerra, é, segundo o próprio autor, um “papo radiofônico que mantive há tempos com a minha amiga Lya Cavalcanti, numa série de oito programas dominicais da PRA-2, Rádio Ministério da Educação e Cultura. […] Foi simples experiência de preencher um tempo/programa com lembranças da vida literária, sem pretensão a traçar o quadro de uma juventude, e menos ainda o de uma época. Não alcançou maior repercussão. E a matéria só volta a aparecer, depois de transitar pelas colunas do Jornal do Brasil, devido a certa infantilidade do meu espírito: por um inocente mecanismo de repetição, ele aspira a recordar o já recordado, na ilusão voluntária de que ‘de tudo resta um pouco’. Alguma coisa do que foi ao ar naquela ocasião sai modificada por interesse de arrumação das palavras, e boa parte está resumida.”
O livro que nasceu da transcrição da conversa entre amigos tem um ar de íntimo. Ele foi lançado como “Quase memórias” no Jornal do Brasil e apenas em 1986 ganhou sua primeira tiragem em livro.
O texto é, ao mesmo tempo, ele próprio e sobre ele. Mas também sobre hoje, sobre memória. Drummond é mesmo um poeta completo.