A cidade partida do titulo é o Rio de Janeiro, cenário de uma verdadeira guerra: a da sociedade contra os bandidos. Durante dez meses, Zuenir Ventura freqüentou a favela de Vigário Geral (tristemente famosa pela chacina de 21 pessoas em 1993), convivendo com o outro lado da cidade, onde a vida não vale nada e a violência é a linguagem do cotidiano. Ao mesmo tempo, o autor acompanhava ativamente a mobilização da sociedade civil contra a violência, que resultou no movimento Viva Rio. Cidade partida é o impressionante relato, muitas vezes emocionado, do correspondente de uma guerra de lances surpreendentes e heróis inusitados, cuja solução não consiste meramente em destruir um suposto inimigo, mas em incorporar a massa do excluídos à sociedade.
Como experiente jornalista, Zuenir descreve com acuidade e sem prejulgar, mas deixa transparecer o espanto de quem descobre um outro mundo, com valores, hierarquias e regras próprias, onde se anda de metralhadora a tiracolo e a cocaína é vendida em praça pública. A entrevista magistral que fez com Flávio Negão, o líder do tráfico na favela, revela a desconcertante forma de pensar e o cotidiano infernal de um bandido que sabe que está marcado para morrer. Ele conhece também as ideias e pensamentos de jovens funkeiros e outros personagens de um verdadeiro faroeste urbano, e identifica um caminho que para muitos não passa de utopia: em vez de apartar, aproximar.