A jornalista reconstitui a ascensão e queda da Odebrecht em uma trama que envolve relações familiares shakespearianas e uma intrincada rede de negócios escusos
Por Felipe Maciel
Repórter da revista Piauí e apresentadora do podcast sobre política Foro de Teresina, a jornalista Malu Gaspar já havia conquistado o reconhecimento de seus pares e dos leitores com seu livro-reportagem sobre Eike Batista. Agora, Malu acaba de publicar seu projeto mais ambicioso com o lançamento de A organização: A Odebrecht e o esquema de corrupção que chocou o mundo (Companhia das Letras).
Foram quase quatro anos de pesquisa minuciosa, mais de uma centena de entrevistas e um extenuante trabalho de cruzamento e checagem de documentos e de depoimentos para destrinchar o intrincado quebra-cabeça da maior empreiteira brasileira, com ramificações em diversos países.
Malu reconstitui a trajetória da pequena empresa baiana que, a partir da década de 1960, driblou suas concorrentes nacionais, tornando-se um império, cujo principal trunfo era o trânsito livre com poderosos de Brasília. As revelações trazidas à tona pela Lava Jato, porém, revelaram métodos nada republicanos entre os setores público e privado do país. A derrocada tanto da empresa quanto da família Odebrecht veio a seguir.
O livro traz também a narrativa de uma tragédia familiar, movida a ódio e ressentimento. Os protagonistas, Emílio e Marcelo Odebrecht, pai e filho, são, hoje, inimigos e desempenham o papel de antagonistas de uma trama marcada pela disputa pelo poder. Fato é que a derrocada não se deu apenas no âmbito empresarial. Malu desvenda a saga de uma família destroçada que, curiosamente, havia se constituído com base em princípios de lealdade e confiança.
Pedro Bial recebeu a jornalista em seu programa Conversa com Bial e sintetizou as múltiplas dimensões de um dos principais livros de não ficção deste ano: “Quando a história é boa e bem contada, ela se torna retrato e mapa de um tempo e lugar. Pode, a um só tempo, iluminar o plano geral de uma tragédia de dimensões nacionais e também jogar luz sobre fantasmas que se escondem no íntimo de seus personagens.”, afirmou.