“Trata-se de uma questão política, coletiva, estrutural. Pensar que a violência sexual é algo que acontece na história da intimidade é errado”, Adriana Negreiros
Por Felipe Maciel
A cultura da violência e do estupro no Brasil em suas mais variadas formas e expressões é o tema de A vida nunca mais será a mesma (Objetiva), segundo livro de Adriana Negreiros. Ela escreve com a precisão das grandes jornalistas: reúne informação, descreve os lugares e o decorrer das horas, elabora o contexto, apresenta fontes e economiza os adjetivos.
Forte, contundente, um nó na garganta: este livro comove. Não há palavra que falte porque elas são escolhidas cirurgicamente e tocam em emoções profundas – o drama e a tragédia residem nos fatos narrados. Eles falam por si.
A história pessoal da autora – a de seu próprio estupro – é a história de um trauma, a de uma vida modificada pela violência, mas há muitas vozes e neste livro escutamos algumas delas. A geleira das estatísticas apenas tateiam a realidade do assédio e a cultura do estupro. Entre avanços e graves retrocessos, o Brasil tarda a agir sobre o tema da violência contra a mulher.
“Uma mulher que um dia passou por uma experiência de estupro nunca mais baixa a guarda. Nunca mais.”, escreve Adriana no epílogo, quando volta a se colocar no centro da narrativa. “Será que por algum momento, durante o estupro, o estuprador pensa que tá fodendo a vida daquela mulher pra sempre?”, acrescenta a seguir, parafraseando o questionamento de uma das mulheres que ouviu para este livro.
Confira a live de lançamento do livro em uma conversa cobre violência contra mulheres, com Adriana Negreiros e Debora Diniz e mediação de Adriana Ferreira: