Em seu último livro publicado em vida, Fernanda Young expôs com habitual franqueza seu ponto de vista sobre o que significa ser mulher
Por Felipe Maciel
Fernanda Young nos deixou muito cedo, e, perto de sua despedida, lançou pela Leya aquela que seria sua última obra publicada em vida, Pós-F: Para além do masculino e do feminino. O livro, vencedor do Jabuti 2019 na categoria crônicas, foi também sua estreia na não ficção e, como em tudo que fez, mergulhou na escrita com entrega completa.
“Não sou especialista em nada. Melhor, não sou especialista em coisa pronta. Procuro me aprimorar em mim, entendendo sobre mim – usando, é claro, tudo que observo nos outros.”, pontuou a autora já no prefácio do livro. Logo adiante, ela acrescentou: “Mulheres como eu incomodam muito. Não pela beleza, inteligência, posses, amores, mas porque não devem nada a ninguém. Por isso falo e faço o que quiser.”.
Fernanda Young nunca se calou e sempre impôs sua voz contra os diversos tipos de silenciamentos. Em seu braço esquerdo tatuou um verso de Madonna: “Do you know what it feels like in this world for a girl?” (Você sabe como se sente uma garota neste mundo?). A pergunta, revelou a escritora, ecoava nela há muitos anos.
Algumas respostas, outras perguntas e sua habitual franqueza norteiam as páginas deste livro, em que Fernanda refletiu sobre liberdade, feminismo, maternidade, relação com o corpo, desejo e sexualidade feminina, tocando também em pontos delicados, como assédio. Para além do masculino e do feminino, remete também a uma ideia de utopia, a começar pela “extinção da ignorância, o maior problema do século XXI”.