29 de outubro de 2020

Marcela Dantés vasculha silêncios em seu primeiro romance

Por Felipe Maciel

“Mulher é encontrada mumificada em apartamento cinco anos após sua morte”. A manchete estampada em um jornal espanhol é o ponto de partida de Nem sinal de asas (Patuá), o primeiro romance da escritora mineira Marcela Dantés. Quem seria e como viveu aquela mulher solitária que morreu no próprio apartamento em 2012 e cujo corpo só foi descoberto em 2017? Solidão, dor, medo? Uma vida inteira sem ser notada, nem mesmo na morte. Havia tantas perguntas e sentimentos no ar.

O drama invisível que aquela notícia revelava rondou a escritora durante meses e, assim, o romance foi ganhando forma, entre as pequenas lacunas que a ficção ocupa para dar sentido ao vazio. A escritora conseguiu entrar em contato com a jornalista espanhola Silvia Pontevedra, a autora da matéria, na tentativa de reconstituir os silêncios nunca revelados na vida daquela mulher.

Ao longo dos últimos três anos, Marcela se dedicou ao livro, que foi finalizado em abril, em meio à pandemia. Curiosamente, Marcela narra uma história sobre uma mulher sozinha, que sempre viveu nas pontas dos pés, confinada em seu apartamento. Sua morte resume o resto de sua vida, a solidão esmagadora de alguém que não gosta muito de gente, ela incluída.

Terminar um romance é meio como voltar à superfície depois de um longo mergulho. Foram anos às voltas com uma vida que não era minha, com angústias e aflições que não deveriam ser minhas, mas claro que eram, também. Foi um desafio, muitas vezes doído, intenso, mas bonito. Ver o livro acontecendo, existindo pro mundo, é muito feliz“, reflete Marcela.


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